desafio 24 - Desafios Globais
Assumir por inteiro a vocação europeia, atlântica e universalista
O mundo contemporâneo é um mundo economicamente globalizado e ligado em rede, desterritorializado, interdependente, onde coexistem e se afirmam múltiplos atores de diferente natureza e dimensão, com interesses e capacidade de influência diversos e diversificados.
Com o advento da interdependência global, muitos dos desafios que se colocavam apenas a uma escala regional, globalizaram-se. As respostas a estes desafios não podem deixar de ser articuladas e coordenadas a nível mundial. Os cenários internacionais das próximas décadas já se perfilam, distinguindo-se os seguintes eixos:
- A consolidação de uma economia efetivamente global, organizada em torno do conhecimento/inovação e que se centrará no setor terciário, galvanizada pelas TIC, assente na existência de cadeias de valor globalizadas e na gestão global dos fatores de produção;
- A progressiva e iniludível desterritorialização dos estados com o advento e posterior consolidação de comunidades de interesses globais e horizontais, desvinculadas do território da nacionalidade de origem que interagirão através das redes sociais globais;
- A emergência de uma nova ordem internacional, com Instituições que refletirão os equilíbrios de poder da era global, com formas de governança aberta à participação da pluralidade de atores da ordem internacional: blocos regionais, Estados, comunidades civis globais, com a missão de gerir em comum as grandes questões globais;
- A influência das alterações climáticas, bem como a maior exploração dos oceanos e do espaço mais próximo do planeta Terra, na busca de mais e melhor espaço e de recursos energéticos alternativos aos combustíveis tradicionais;
- Novas formas de organização da estrutura familiar e da vida em comum ou em comunidade, com uma mudança profunda nos costumes, nas formas de vida e de trabalho, nos meios de transporte e comunicação, nos hábitos alimentares, de vestuário, etc.;
- As sinergias criadas pela interação da investigação no âmbito da física, da biologia e da medicina consolidarão uma esperança de vida que se estenderá além dos 100 anos, o que provocará uma alteração profunda na gestão das diversas fases da vida do ser humano e acarretará novos problemas sociais.
No plano político, com a consolidação da interdependência económica a nível global, assistir-se-á, nas próximas décadas, ao reforço da importância de alguns países em detrimento de outros e à criação de blocos regionais baseados na pertença a uma comunidade mais vasta de interesses que os interesses nacionais e que possuirão uma maior capacidade de influência a nível global.
Na próxima década, é previsível que se consolidem, no plano internacional, núcleos geográficos de atores que, pela sua dimensão, poder económico, demografia, recursos naturais e localização geográfica, se adaptem às exigências e condicionantes da globalização.
Quanto à União Europeia (UE), é previsível que a Zona Euro não só resista aos efeitos da crise económica que atravessa mas se consolide, com a criação de um governo económico que, embora assente em novas formas de equilíbrio interno e de distribuição de poder entre os seus membros, tome as medidas necessárias para dar maior robustez e dinamismo ao mercado interno e à União Económica por forma a assegurar o crescimento sustentável da sua economia interna, garantindo competitividade internacional e, consequentemente, plena relevância política.
A UE, ante a irreversibilidade do processo de integração económica – ultrapassado que está o “ponto de não retorno” – e face aos desafios externos, não poderá deixar de evoluir para uma União Política, dotada de Instituições de Governo que possuam uma nova legitimidade democrática e novas competências, substancial e qualitativamente diferentes das que possuem atualmente.
Por outro lado, face à evolução da ordem internacional e à configuração de novas formas de gestão em comum dos desafios globais, a Europa ver-se-á compelida a encontrar as fórmulas de participação “a uma só voz” que a vontade de manter a influência nesse cenário global exigem.
Face a estes cenários, a “ação externa” de Portugal deverá contribuir – prioritária e eficazmente para o desenvolvimento sustentável do país através do empenho convicto e ativo no reforço e aprofundamento do processo de construção europeia e na projeção mais eficaz dos interesses portugueses no mundo, em especial em comunidades, áreas e países com os quais Portugal já possui forte vínculos históricos, culturais e económicos ou cujo crescimento económico aconselha a que se desenvolvam esses vínculos.
Para o fim visado, a “ação externa” de Portugal deverá ser reformulada para se centrar estrategicamente nos cinco seguintes eixos prioritários:
- Na participação mais ativa e empenhada no reforço e aprofundamento do processo de construção europeia.
- No reforço interno e externo da CPLP.
- No estabelecimento de parcerias densificadas com determinados Estados-Membros da UE e com os parceiros tradicionais.
- No fortalecimento do relacionamento com países e regiões que contribuam para a diversificação das parcerias económicas, para o aumento das exportações e para uma maior captação de investimento.
- Na reorganização e no reforço das estruturas politicas e técnicas do Estado ao serviço da “ação externa”.
Neste contexto defendemos as seguintes orientações estratégicas e recomendações:
- Participar mais ativamente na UE no sentido do reforço da união política e da plena afirmação no mundo
- Promover o reforço interno e externo da CPLP
- Reforçar as parcerias estratégicas bilaterais