27 desafios
511 recomendações
Desafio 6
Criar e transformar negócios, arriscando, inovando e empreendendo
A inovação constitui um vetor essencial no desenvolvimento de uma sociedade moderna. É mesmo um dos fatores de integração horizontal mais consensuais em todos os domínios da atividade social. Para que tal aconteça torna-se necessário, antes de mais, implementar uma cultura de inovação, valorizando a criatividade e a responsabilidade individual, e dos diferentes grupos.
Será importante que cada um sinta a capacidade e o dever de tomar o destino nas suas próprias mãos, assumindo a responsabilidade de encontrar as soluções mais apropriadas para si e para os outros, numa postura de serviço à comunidade. É essencial impregnar esta cultura de inovação, generalizadamente, na sociedade (inovação de conceitos, processos e culturas empresariais e sociais) e usar a inovação como uma ferramenta de alavanca de resultados.
Uma política de inovação deve ser enquadrada por um conjunto de princípios que sirvam de base a uma política integrada, coerente e sistémica, visando nomeadamente:
- Colocar a empresa no centro do sistema de inovação
- Assegurar a estabilidade da política de inovação para estimular a inovação na realidade empresarial portuguesa
- Criar as condições de mercado adequadas através do Estado
- Apoiar o desenvolvimento de redes de inovação
- Potenciar os setores económicos com maior impacto inovador
- Apostar no empreendedorismo e na criação de empresas de base tecnológica
- Definir áreas de negócio prioritárias e de ação privilegiada
A política de inovação que tem vindo a ser definida ao longo dos últimos anos tem sido consubstanciada num conjunto de programas de financiamento e de sistemas de incentivos baseados em fundos europeus. A falta de estabilidade e de objetivos claros, a constante mudança das regras que definem os sistemas de incentivos e a ineficiência da administração pública acabam por implicar atrasos consideráveis no financiamento dos projetos. Ainda mais grave é a ausência de formas consistentes de avaliação e monitorização do enorme esforço público realizado. Infelizmente, muitos dos indicadores de inovação nacionais, com resultados supostamente positivos, mais não representam do que indicadores de consumo de riqueza e não de criação de valor a partir do conhecimento.
A observação permanente de casos de sucesso de promoção da inovação, a auditoria externa às políticas de inovação e a avaliação correta e rigorosa do valor criado nas empresas e na rede de parceiros (SCTN – Sistema de Ciência e Tecnologia Nacional, financiadores, clientes, fornecedores, Estado e sociedade em geral), constituirá um pilar fundamental de credibilização das políticas de inovação.
Neste contexto, defendemos as seguintes orientações estratégicas e recomendações:
- Assegurar o acesso ao financiamento
- Criar aceleradores da inovação
- Animar uma rede de inovação aberta internacional
- Afirmar o empreendedorismo como motor de transformação da sociedade portuguesa
Orientações Estratégicas
O ponto crítico do financiamento da inovação está centrado nas fases de crescimento das start-up, habitualmente designadas por “segundo round de financiamento”. O financiamento da inovação é, aliás, identificado como área deficitária no The Innovation Union’s performance scoreboard for Research and Innovation 2010, no qual Portugal aparece no grupo dos Moderate Innovators, resultado honroso, mas que esconde um conjunto de lacunas que condicionam fortemente o desenvolvimento económico.
O financiamento das primeiras fases de arranque de uma empresa, através do conjunto de iniciativas mais recentes, parece caminhar para uma solução satisfatória. Mas há, claramente, um problema de financiamento do crescimento das start-up. Impõe-se por isso distinguir os incentivos à inovação de nidificação (pré-incubação e capital semente) dos de expansão. O modelo de entidades catalisadoras, como mercado de incubação de algumas tecnologias que lhes são críticas (com grande base na COTEC – Associação Empresarial para a Inovação), parece ser muito limitado às grandes empresas e, por isso, incapaz de ser o motor global de financiamento da inovação.
O Estado deve aparecer como agente regulador, ocupando e dinamizando nichos com défice de procura, mas, fundamentalmente, criando condições de partilha de risco com o setor privado, através da promoção de ações de cofinanciamento com outros promotores internos. Mas, para que se possa atingir um volume significativo de financiamento com resultados efetivos a médio prazo no número de empresas que atingem maturidade e crescimento elevados, terá que existir uma decisão política em dimensão e estabilidade. São vários os modelos testados em diferentes países, incluindo opções que vão da possibilidade de aplicação de um valor residual (de 0,5 a 1%) de fundos de estabilidade da segurança social em financiamento por capital de risco de start-up nacionais, até à indexação de um valor percentual para apoio à inovação em todas as grandes obras de investimento público.
Estes fundos são depois disponibilizados para alavancar investimentos em parcerias de risco obrigatório com o setor privado, podendo constituir um fator de viragem decisiva no financiamento global da inovação em Portugal.
Por outro lado, é absolutamente fundamental o aparecimento regular do financiamento de operações de crescimento por parte de operadores de média ou grande dimensão, na área do capital de risco. A abertura do mercado a operadores internacionais será um passo obrigatório nesse sentido. A criação recente do European Venture Club, agrupando os maiores operadores europeus de Venture Capital, é um sinal positivo que importa apoiar.
Em suma, pode-se considerar que oferta atual de Venture Capitalists (VC) e de Business Angels (BA) vocacionados para apoiar o arranque de start-up é suficiente face à procura existente, existindo inclusivamente por parte de uma grande maioria desses fundos uma pressão para investir o seu capital até junho de 2013, sob pena de devolução de verbas alavancadas com apoio do QREN, por ausência de aplicação.
O problema, assim, não se coloca tanto ao nível da oferta de soluções de financiamento, mas antes na articulação dos instrumentos disponíveis (por exemplo, os sistemas de incentivos à atividade de I&D, as linhas PME-Crescimento e o mercado de capitais, que continua em Portugal com ausência de procura por parte das empresas em fase de crescimento e com potencial para beneficiar das plataformas existentes).
Os esforços do Estado, na condução de políticas públicas de apoio ao financiamento da inovação, devem assim focalizar-se na figura de “acelerador” e “integrador” dos instrumentos disponíveis, envolvendo de forma proativa e articulada as empresas (em particular PME) e os promotores de projetos de inovação, com as entidades gestoras daqueles instrumentos, potenciando assim a facilitação de processos de matching, de análise, concretização e acompanhamento de operações de financiamento de projetos inovadores.
RECOMENDAÇÕES
- Assegurar a articulação dos instrumentos públicos e privados disponíveis de financiamento à criação e desenvolvimento de projetos empresariais (fundos comunitários, incentivos fiscais, apoio à atividade de I&D, linhas PME-Crescimento, mercado de capitais e capital de risco), gerando massa crítica na capacidade de análise e financiamento de projetos inovadores.
- Reforçar o investimento privado, desenvolvendo mecanismos inovadores de matching funds para apoiar o crescimento das novas empresas de base tecnológica, premiando, através do financiamento público, a capacidade das empresas angariarem a maior parte do financiamento a partir do setor privado.
- Tornar obrigatória a alocação de uma percentagem do investimento público em infraestruturas ao financiamento de start-up nacionais.
- Disponibilizar fundos de capital público, associados ao setor privado, específicos para áreas consideradas como estratégicas para o desenvolvimento a médio longo prazo, como por exemplo no domínio das tecnologias limpas, da economia do mar e das florestas.
A base de conhecimento científico de que já dispomos em Portugal e, muito particularmente, o conhecimento produzido nas instituições de ensino superior, têm um potencial de valor económico que está muito pouco explorado.
Em primeiro lugar, o financiamento de I&D está demasiado focalizado na oferta, privilegiando a blue-sky research, sem obedecer a quaisquer prioridades e com reduzida orientação para o desenvolvimento da inovação das empresas portuguesas. Em segundo lugar, existe uma clara falha de mercado no que respeita a investimento adequado nas fases de validação da inovação e de desenvolvimento da ideia de negócio. Adicionalmente, faltam competências de gestão e capacidade de interpretar as necessidades do mercado. Por outro lado, as estruturas de licenciamento de resultados de investigação existentes são, na sua maioria, pouco eficazes, com uma quase total ausência de estruturas de ligação com a indústria.
Adicionalmente, existe um stock de conhecimentos detidos em Portugal com um valor intrínseco muitas vezes ignorado. A título de exemplo, refira-se todo um património de conhecimento na área das ciências tropicais acumulado ao longo de décadas e que permanece fechado em instituições sem capacidade para promover as devidas valorização cultural e exploração económica. Também nas ciências da saúde e nas ciências da engenharia civil é fácil reconhecer uma acumulação de conhecimento capaz de conferir uma vantagem competitiva significativa em serviços especializados em cuidados de saúde e da construção, respetivamente. Por outro lado, existe um conhecimento muito valioso na classe laboral reformada ou pré-reformada que deve ser canalizada para novos projetos empresariais ou públicos, sob a forma de mentoring e coaching, para apoio dos empreendedores durante o crescimento e amadurecimento do projeto empresarial.
É importante promover uma forte articulação com entidades que no terreno têm ligação ao tecido produtivo por forma a provocar uma fertilização cruzada de conhecimento entre setores de atividade. É, ainda, crucial efetuar junto das PME exportadoras e em fase de crescimento um diagnóstico de necessidades de tecnologia e problemas suscetíveis de resolução pela investigação e desenvolvimento promovida pelas entidades do SCTN e organizar um modelo de aproximação proativo dessas necessidades às atividades de I&D em curso naquelas entidades.
RECOMENDAÇÕES
- Constituir, a partir dos atuais recursos (na FCT-Fundação para a Ciência e Tecnologia, IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação, e ADI – Agência de Inovação), uma unidade operativa para acompanhamento de projetos científicos com potencial económico, associada a um Fundo de Investimento e obedecendo a uma lógica de modelo de negócios sustentável, com metas de rentabilidade e de criação de emprego atribuídas aos gestores daquela unidade.
- Reformular o sistema de incentivos fiscais, SIFIDE – Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial, visando identificar as atividades de I+D+I desenvolvidas no setor privado, com a dinamização dos núcleos de investigação e desenvolvimento nas empresas.
- Criar um sistema Acelerador de Inovação e Competitividade Empresarial (AICE), visando aumentar a probabilidade de sucesso dos projetos e start-up que venham a ser apoiados pelo Ecossistema de Inovação e Competitividade, facilitando a captação de investimento nacional e estrangeiro através de fundos sectoriais e temáticos.
Os novos desafios da competitividade da economia obrigam a aumentar a capacidade de conceptualizar, analisar e perspetivar o desenvolvimento de novos produtos, serviços ou negócios, atuando de forma global na disputa das oportunidades. Os novos modelos e processos de negócios são baseados no fluxo de informação, organizados em redes de cooperação e parceria, trazendo sempre os melhores parceiros. A força de uma rede, como é bem sabido, é a força do nó mais fraco. Por isso, a escolha das parcerias e das redes tem de ser construída de forma inteligente, persistente e eticamente responsável. A focalização nas nossas competências básicas e a perceção das competências dos outros, a resposta rápida, a produção sem defeitos, a diferenciação e a diversificação são estratégias de quem quer estar entre os melhores.
Finalmente, temos que avançar de forma clara no espaço europeu de investigação, aumentando a participação de empresas e centros de investigação nos programas quadro, atingindo a curto prazo o objetivo mínimo de captar em financiamento um valor idêntico ao peso económico do país. Entre outros fatores, devemos apoiar as grandes linhas de investigação industrial, mediante a colaboração público-privado.
É fundamental que os desafios para a resolução de necessidades concretas venham das administrações das entidades catalisadoras. Para que isso aconteça, é necessário promoverem a orquestração dos fóruns de inspiração e geração de ideias, em colaboração e partilha de conhecimento com o SCTN, empresas, clientes, mentores e entidades reguladoras de um setor de negócio, que deverão estar também ligados aos aceleradores de negócio internacionais de forma a explorarem oportunidades que permitam lançar produtos globais. Acreditamos que esta “orquestração do conhecimento em rede”, pode funcionar como um acelerador de negócios, com um potencial enorme para criar valor.
RECOMENDAÇÕES
- Apostar na capacitação institucional da rede de parques de ciência tecnologia e incubadoras, através de um modelo direto de avaliação do crescimento do volume de negócios, do volume de exportações e da criação de emprego.
- Criar sistemas de apoio ponto a ponto para empresas de base tecnológica, em articulação com a rede de Embaixadas e de representações da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, como alternativa aos atuais modelos de apoio, muito centrados em eventos comerciais.
- Reformular o sistema de incentivos fiscais, SIFIDE, reorientando-o para a dinamização das exportações.
- Reforçar as competências jurídicas das instituições universitárias no domínio da propriedade intelectual ao nível da elaboração de regulamentação interna e da celebração de contratos e acordos.
- Aumentar a participação de empresas e centros de investigação nos programas quadro da UE, atingindo, a curto-prazo, o objetivo mínimo de captar em financiamento um valor idêntico ao peso económico do país.
Portugal precisa de despertar. Mais do que desesperadamente tentar encontrar a nossa NOKIA (empresa-âncora da economia finlandesa), é fundamental que sejamos capazes de, a partir de uma cultura de empreendedorismo, gerar centenas de start-up que funcionem no mesmo ecossistema, isto é, com uma relação de proximidade e de cumplicidade com as grandes empresas, com as grandes universidades e com o sistema financeiro.
Esta alteração de paradigma obriga à necessidade de criar uma maior competitividade dos nossos sistemas de ensino, formação profissional e aprendizagem ao longo da vida. Implica também a capacidade de desenvolver uma nova cultura empresarial baseada na inovação, na competência e no empreendedorismo e uma administração pública magra, ágil e flexível onde o espírito de missão e de serviço sejam reencontrados. Torna-se assim essencial afirmar o papel da I&D+I como elemento essencial para a produção de novos conhecimentos e criação de riqueza e bem-estar social, criando condições políticas e institucionais que fomentem a articulação e geração de sinergias entre produção de conhecimento inovador e produção de riqueza.
É, por isso, fundamental criar aceleradores de negócio a desenvolver que assentem nas redes de colaboração, partilha e valorização do conhecimento, promovendo a mudança cultural nas grandes organizações nacionais, com responsabilidade social, que devem ser o mercado de incubação de tecnologia nacional, tendo um papel catalisador nos Ecossistemas de Inovação e Competitividade Empresarial e que potenciem o empreendedorismo e a criação de emprego altamente qualificado.
RECOMENDAÇÕES
- Estabelecer um modelo de governação e de financiamento à inovação que premeie a proximidade, cooperação e parceria entre as start-up, as grandes empresas, as grandes universidades e o sistema financeiro.
- Incluir o empreendedorismo nos curricula em todos os níveis do sistema educativo.
- Lançar programas de empreendedorismo específicos para setores de atividade (indústrias criativas, agricultura,…) ou segmentos sociais (juventude, desempregados,…).
- Apoiar a constituição de entidades que pratiquem o mentoring e o coaching, ajudando os jovens empreendedores a construir a sua proposta de valor, o plano de negócios e o plano de inovação, seguindo as melhores práticas de gestão, bem como durante as fases de vida e crescimento da empresa.
- Considerar o empreendedorismo como uma competência transversal a usar ao longo da vida, quer dentro de uma organização quer no autoemprego e promover o seu desenvolvimento na educação e formação ao longo da vida, garantindo que os vários curricula, quer para jovens, quer para adultos em fase de requalificação profissional, incluem estes conteúdos.
- Diversificar as iniciativas que aumentem a literacia financeira da população em geral e o acesso a entidades financiadoras e potenciais investidores.
- Incentivar mais iniciativas relacionadas com capital semente e business angels (investidores individuais), com especial foco no apoio a projetos de autoemprego.
- Dedicar parte significativa do capital de risco público a iniciativas para o autoemprego.